Em todas as culturas grande importância é conferida ao casamento, a data do enlace é um dia muito festejado, o povo hebreu, por exemplo, comemorava por dias. A Igreja não somente vê no casamento um acontecimento cultural importante, mas compreende-o como Matrimônio, como sacramento. Para a fé católica o Matrimônio não apenas reconhece o caráter natural do enlace entre homem e mulher, mas eleva este enlace a uma dimensão sagrada. Vamos entender, ainda que brevemente, a particularidade da sacralidade matrimonial.
Deus nos é dado a conhecer por São João da seguinte forma: “Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4,16). E a Igreja nos ensina que “homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade” (CIC,27). Ora, se Deus é Amor e o homem foi criado por Ele e para Ele, então podemos entender que o homem foi feito pelo Amor e para o Amor e neste Amor permanecer.
A partir dessa podemos, legitimamente, compreender o significado inicial do Matrimônio: homem e mulher criados por Deus e chamados a viverem o Amor. Segundo a Escritura “O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda (assemelhe)” (Gn 2,18). Essa “correspondência” ou “semelhança” está na comum natureza:“Então, o Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: ‘Esta sim é osso dos meus ossos, é carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem!’Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e eles serão uma só carne” (Gn 2, 21-24). Homem e mulher têm a mesma natureza que implica no reconhecimento da diferença: masculino e feminino. Eis o que a união matrimonial nos mostra: a doação-união de dois seres diferentes que compartilham a mesma natureza frutificando em um terceiro ser: o filho. Nessa acepção, o amor matrimonial é chamado a sinalizar o Amor Trinitário. Ao mesmo tempo, a realidade matrimonial reflete a doação amorosa recíproca Cristo-Igreja (sua esposa). Ele entregou a vida por Ela. Ela vive por Ele (cf. Jo 19, 34-35).
Na cotidianidade da vida isso significa que o Matrimônio é o “local” em que o casal católico aprende a exercitar-se no amor visto que a necessária coexistência exige paciência, acolhimento, doação de si, renúncia. Em outras palavras, a vida matrimonial possibilita ao casal desenvolver-se nas duas dimensões do Amor: éros e ágape. A primeira dimensão é marcada pelo desejo de conquista, de posse. A segunda dimensão se caracteriza pela capacidade de sair de si, de doar-se. Nesse sentido, ensina o Santo Padre Bento XVI em sua encíclica DEUS CARITAS EST (DCE, 7) que eros e agape “nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontram a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral”. Um matrimônio que não busque construir-se nesses dois sentidos do amor está fadado à frustração, pois se não há doação, não há comunhão e a sacralidade não é vivenciada.
Professor Ricardino Lassadier é graduado em Filosofia. Especialista em Filosofia e Teologia. Leciona no IRFP e na Rede Pública Estadual, é ministrante de cursos no CCFC (Centro de Cultura e Formação Cristã).
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